Quando ouvi pela primeira vez o título "O sétimo", a primeira impressão foi a de ouvir uma daquelas vozes que anunciam minisséries de época. É incrível como já no título, H. S. Fernandes nos cativa, quase que no mesmo tom que as famosas novelas brasileiras.
É assim que ele contextualiza esta fascinante obra, tomando como ponto de partida um momento tão marcante da história nacional, a ditadura. Falar de qualquer assunto em um cenário tão cercado de aspectos culturais e políticos é algo que apenas os gênios escritores conseguem desempenhar bem.
Nosso querido H. S. Fernandes nos guia com maestria apresentando em cada capítulo suas personagens repletas de camadas. É impossível não chorar com as angústias vividas por Isabela. Amar e detestar Felipe. E mesmo Dona Ingrid, que apesar do lado francês, remete a figura mais sublime da típica mãe brasileira. Logo nos primeiros capítulos, confesso que a reviravolta da trama me deixou apaixonado pelo livro. É fato que fiquei chocado quando vi uma intensa história de amor transformar-se em uma surpreendente lição de vida recheada de superação que abrange tão complexos tabus sociais. Os personagens são tão deliciosamente amarrados pela narrativa que por várias meu sangue ferveu, tamanha a raiva pelo antagonista. Aliás, Andrew foi um dos furacões que mais devastou o estado da Flórida nos EUA. Nesta obra, podemos dizer o mesmo do primogênito de Isabela, que desde sua concepção trouxe o caos para a vida de todos a sua volta.
Quando eu conheci H.S. Fernandes, quase que por acaso em um evento no centro de Londres, ainda durante o lançamento de seu primeiro livro, mal tivemos a oportunidade de conversar. Bastaram um aperto de mão e uma leitura, quase que dinâmica, de sua aura, para eu saber que estava diante não apenas de um escritor, mas de um autêntico contador de histórias.
Em O sétimo, H. S. Fernandes se coloca em um paralelo muito próximo de Machado de Assis, e sua obra Dom Casmurro. Não que a temática seja a mesma. Não que exista uma linha de tempo entre Capitu e Bentinho, que seja similar à de Isabela, Felipe ou David, mas sim porque o enredo é autêntico. É brasileiro nato, mesmo narrando em retratos uma tragédia tupiniquim que acaba por migrar para os EUA. E sim, também pela maestria como Fernandes consegue nos corroer de ansiedade, nos compelindo a devorar cada página, cada capítulo em busca de saber o que acontecerá com a família Greenfield.
A única certeza é que se O sétimo, em sua parte 1, traz tantas revelações, precisaremos estar com o coração preparado para as surpresas inevitáveis da parte 2.
Sandro Vita
Escritor - Empresário - Filantropo
Autor de nove livros, entre eles o best-seller Porta do Sol, que conquistou mais de meio milhão de leitores em suas versões no inglês e no português.